Reign In Blood, minha passagem para o mundo da desgraça

Em 2000, estava eu no auge dos meus 14 anos e além de ouvir um som, meu passatempo era ler as revistas do meu irmão, para ficar por dentro de tudo o que acontecia no rock, já que eu não entendia muita coisa sobre o assunto. Uma dessas revistas tinha um título curioso: “100 discos para ouvir antes de morrer”. Na verdade, era uma espécie de guia com um resumo curto de obras fundamentais do rock e do metal (na opinião de quem escreveu, lógico).

É óbvio que eu fui ler, para saber qual seria meu próximo passo. Não foi uma escolha difícil, já que a curta resenha de “Reign In Blood”, do SLAYER, envolvia tudo o que poderia chamar a atenção de um jovem: violência, sangue, desgraça e hostilidade em altas doses. Não pensei duas vezes, peguei a minha bicicleta e fui até a locadora de CDs que existia no centro da cidade.

Chegando ao meu destino, perguntei pelo tal “Reign In Blood”. Para minha sorte, o CD estava disponível. Eu queria ouvir o disco logo, portanto, voltei para casa pedalando muito rápido, parecia até o protagonista cabeçudo do desenho “O Fantástico Mundo de Bobby” em seu triciclo.

Enfim, cheguei em casa e resolvi ouvir o aclamado “Reign In Blood”. Logo nos primeiros segundos, o riff caótico de “Angel Of Death” me deixou paralisado. Depois que ouvi o grito insano de Tom Araya, entendi um pouco melhor as razões pelas quais esse disco foi tão bem falado na revista que eu havia lido horas atrás. Após ouvir a faixa de abertura, eu fiquei chocado com a bordoada que levei no ouvido, no peito e na alma.

O restante do álbum comprovou o que eu imaginava ao ler a sua pequena resenha: sem sombra de dúvidas, “Reign In Blood” é o disco mais rápido, violento e desgraçado gravado por alguma banda. A cada música, eu me sentia mais enfeitiçado por aquelas composições rápidas, pesadas e envolventes. É verdade que eu me assustava ao ouvir uns “death” daqui e uns “satan” de lá, mas eu estava pouco me fodendo. Eu só queria ouvir aquela obra-prima da barulheira.

A segunda parte do disco me causou o mesmo impacto que a primeira. O clima apocalíptico de “Criminally Insane”, a rapidez e a estupidez de “Reborn” e “Epidemic” prepararam meus ouvidos para um dos maiores momentos da minha existência: ouvir “Postmortem” e “Raining Blood” pela primeira vez na vida.

Eu fiquei impressionado com aquilo ali. Nunca tinha ouvido nada tão assustador e pesado quanto aquilo. Quem conhece essa dobradinha fatal sabe do que estou falando. Duas músicas excelentes, sendo que a segunda tem o maior riff da história do metal extremo. O final sombrio, com aquele barulho infernal de chuva, me causou um misto de medo, apreensão e vontade de apertar o play novamente. E foi isso que eu fiz, apertei o play novamente e ouvi o disco no repeat várias vezes seguidas.

Foi o primeiro contato que tive com metal extremo. Depois, ouvi muito death metal e alguma coisa do black. Tudo começou lá atrás, no ano 2000, com este álbum maravilhoso. Como eu costumo dizer, “Reign In Blood” foi a minha passagem para o mundo da desgraça. E mesmo que eu não acredite em fim do mundo, se um dia essa bola gigantesca que habitamos for para o saco, esse disco deverá ser a trilha sonora do gran finale. E eu vou gostar muito.

FAIXAS
“Angel Of Death”
“Piece By Piece”
“Necrophobic”
“Altar Of Sacrifice”
“Jesus Saves”
“Criminally Insane”
“Reborn”
“Epidemic”
“Postmortem”
“Raining Blood”

FORMAÇÃO
Tom Araya – baixo e vocal
Kerry King – guitarra
Jeff Hanneman – guitarra
Dave Lombardo – bateria

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